Os riscos geomorfológicos englobam um conjunto diversificado de processos promovidos por agentes da geodinâmica externa e interna, principais responsáveis pela evolução da paisagem e das formas que caraterizam a superfície terrestre, por vezes com consequências negativas para as atividades humanas. De entre os diversos riscos geomorfológicos destacam-se os movimentos em vertentes, constituindo um dos riscos ditos naturais responsáveis por impactes graves sobre as atividades humanas e por milhares de mortes por todo o globo.
A investigação geomorfológica sobre movimentos em vertentes é fundamental para a avaliação do seu comportamento e dos fatores que estão envolvidos no seu desencadeamento, de forma a compreender a sua distribuição geográfica e cartografar esses processos, com o objetivo de identificar a sua dinâmica e prever, na medida do possível, futuras ocorrências.
Dado o seu caráter, por vezes, catastrófico e os impactes produzidos sobre a paisagem, no sistema geomorfológico e nas próprias atividades humanas ou infraestruturas, os movimentos em vertentes têm sido objeto de estudo de muitos investigadores em todo o mundo, de várias áreas científicas (desde geógrafos, geólogos, geomorfólogos, engenheiros, entre outros), com abordagens diferenciadas, procurando identificar e compreender os processos envolvidos, bem como estabelecer metodologias de diagnóstico e medidas de mitigação e de prevenção.
A ocorrência de movimentos em vertentes no território nacional é relativamente frequente, com incidência particular a partir da segunda metade do século XX, com o consequente crescente aumento nos impactes para as atividades humanas e, inclusivamente, com registo de fatalidades.
Exemplo dessa ocorrência é a catástrofe que se abateu sobre a freguesia de Ribeira Quente, localizada no município de Povoação, na Ilha de São Miguel, Açores. No dia 31 de outubro de 1997, na sequência de condições de precipitação extrema, a tragédia atingiu esta freguesia, provocando cheias e movimentos em massa, causadores de destruição de habitações e perda de vidas humanas. Consequentemente, pareceu-nos fazer todo o sentido a escolha dos movimentos em vertentes como tema para o XV Encontro Nacional de Riscos e associarmo-nos à evocação da tragédia da Ribeira Quente, procurando mantê-la na memória e promovendo o conhecimento destes fenómenos naturais catastróficos como forma de prevenção para que tal não se volte a ocorrer ou para que se desenvolvam medidas que minimizem o seu impacte na sociedade. Destaca-se, também, a importância destes encontros enquanto congregadores de conhecimento de várias áreas do conhecimento científico e da própria sociedade na reflexão sobre um tema que afeta diretamente as atividades humanas, levando-nos a pensar quer sobre o que aprendemos com as tragédias que nos atingiram no passado, como analisar a evolução verificada desde então e perceber o que ainda é necessário fazer para potencializar a resiliência das populações.